domingo, 21 de junho de 2009

Açores vão ter Verões cada vez mais quentes e com menos chuva



A temperatura média está a subir nos Açores 0,3 graus Celsius por década, sobretudo a partir de meados dos anos 70 do Século XX e de acordo com os vários cenários climáticos para o horizonte 2100, estima-se que nos Açores haja Verões cada vez mais quentes e com menos chuva.

"Esta tendência não se nota muito de um ano para o outro, mas daqui a 100 anos vai-se notar", afirma Diamantino Henriques, delegado regional do Instituto de Meteorologia (IM) nos Açores, em entrevista ao Açoriano Oriental. Um cenário que no caso concreto da ilha de São Miguel também tem a particularidade de acentuar essa tendência de menos chuva e mais calor sobretudo para a costa sul, enquanto que na costa norte até se prevê que possa chover mais durante o Inverno.

A previsível diminuição da humidade relativa nos Açores num cenário a longo prazo pode ainda levar à redução das nuvens que se formam sobre as ilhas, nuvens essas que dão actualmente um contributo importante para a precipitação. "Vai haver um extremar de situações", alerta Diamantino Henriques, baseando-se nas actuais previsões climáticas e, "se se verificar o cenário para 2100, teremos problemas de falta de água com a condicionante que aqui não temos rios nem albufeiras, nem outras formas de encontrar água a não ser pela chuva".

O delegado regional do IM é, por isso, da opinião que os Açores se devem começar já a preparar para um cenário de falta de água no futuro, "sobretudo na questão do consumo e do desperdício" para não terem de enfrentar daqui a 100 anos uma realidade climática muito diferente da que existe actualmente. Até porque os Açores não estão à margem das alterações climáticas globais, apesar de se poder pensar que, por estarem isolados e não serem uma região muito industrializada, estariam por isso mais protegidos. Diamantino Henriques esclarece: "quando se fala em aquecimento global ele é mesmo global e quando se fala em efeito de estufa, o CO2, por exemplo, é um gás que se mistura bem na atmosfera e tem um período de vida bastante longo". Por isso, não se concentra só no sítio onde é produzido, dispersando-se muito rapidamente.

Contudo, há que ter cuidado quando se fala em alterações climáticas. "As temperaturas e a pluviosidade desta Primavera podem ter sido bastante diferentes das do ano anterior, mas só isso não quer dizer que tenha havido uma alteração climática", afirma Diamantino Henriques. E se a temperatura regista uma evolução mais ou menos constante, já a pluviosidade, num clima como o dos Açores, pode ter variações superiores a 60 por cento, mesmo dentro de um período longo de tempo analisado. Nos Açores, pode-se afirmar que o clima está a mudar, mas os sinais são mais claros na temperatura do que na precipitação.

Hoje, ouvimos regularmente falar de incêndios, seca e calor extremo num lado e chuvas torrenciais, no outro, quase em simultâneo. Diamantino Henriques não considera que estes sejam fenómenos tão anormais quando às vezes se faz crer, mesmo quando se atingem máximos históricos de temperatura ou de pluviosidade. "Esses fenómenos têm hoje maior visibilidade e mesmo quando ouvimos o nosso avô dizer que nunca viu uma coisa assim, temos de ter em conta que a memória das pessoas não é melhor do que a leitura de um instrumento meteorológico, além de que as pessoas estão hoje tão termoestabilizadas, devido ao maior conforto, que qualquer alteração é logo notada", conclui o delegado regional do IM.*

*Leia a reportagem completa na edição impressa do Açoriano Oriental de 21 de Junho de 2009.


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