quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Pescadores 'proíbem' pescar em mares dos Açores


Algumas comunidades de pescadores nos Açores estão a criar áreas de reserva natural com o objectivo de evitar a pesca e permitir a reposição dos stocks de peixe.


Mas, ao contrário do que é hábito, esta iniciativa não nasce de uma imposição do Governo, feita através de decreto legislativo regional. Desta vez, são os próprios pescadores que estão a declarar determinadas áreas como reservas voluntárias.


A ideia foi inicialmente aplicada pela comunidade piscatória da mais pequena ilha dos Açores, o Corvo, e agora estendeu-se às ilhas do grupo Ocidental e Central, ou seja, as Flores, Faial, Graciosa, Pico, São Jorge e Terceira.


Os pescadores estão a tomar esta medida para proteger espécies de pesca como o pargo, veja, bicuda, goraz e boca-negra. Mas também de espécies para observação subaquática, como o mero.


O director regional do Ambiente, Frederigo Cardigos, acredita que este movimento vai chegar rapidamente a todas as ilhas, sobretudo quando os pescadores começarem a sentir os efeitos práticos da iniciativa. Isto é, "quando perceberem que, pelo facto de declararem uma área como reserva interdita à pesca, assistem a efeitos extraordinariamente positivos e multiplicativos nas áreas marinhas à volta", esclarece aquele responsável.


A criação de reservas voluntárias tem, segundo Frederigo Cardigos, vantagem para a economia a dois níveis: "Primeiro para o turismo subaquático; segundo, a longo prazo mas com consequências económicas muito mais vastas, para a disponibilidade dos stocks de peixe para a pesca."


O director regional do Ambiente acredita ainda que, com a aplicação de medidas restritivas nos mares açorianos - quer sejam impostas pelo Governo ou resultantes do voluntarismo dos profissionais do sector -, o peixe vai reproduzir-se e aumentar em quantidade e tamanho. Desta forma, reforçam-se os rendimentos dos pescadores e potenciam-se outras actividades como é o caso do turismo do mar.


Outro dos efeitos da existência de reservas voluntárias em zonas oceânicas mais vastas é provocar um fenómeno conhecido por derrame: os cardumes atingem um grau de robustez e mobilidade tal que se expandem para outras áreas marinhas limítrofes, aumentando a zona onde o peixe existe.


Frederico Cardigos salienta, porém, que a declaração de reservas voluntárias "não pode ser aplicada a todos os locais, nem a áreas extraordinariamente vastas". Mas é um "exemplo a seguir", frisou.


Nos Açores há quatro mil pescadores que no ano passado pescaram 11 500 toneladas de peixe, correspondendo a 35 milhões de euros.


Segundo apurou o DN, os profissionais já sabem que este ano o valor da pesca será mais baixo devido ao facto de o peixe estar a diminuir e de o seu valor comercial ter caído.


Fonte: DN Sapo

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