domingo, 24 de novembro de 2013

Intervenção do Presidente do Governo

Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, Vasco Cordeiro, proferida hoje, na Horta, na cerimónia da bênção da embarcação Mestre Simão:

"É com particular gosto que presido hoje à cerimónia que, de forma pública, pretende assinalar a chegada aos Açores do primeiro dos dois novos navios que, a partir do início do próximo ano, assegurarão o transporte regular de passageiros aqui nas ilhas do Triângulo.

As razões para que este seja um momento especial, são várias e de diversa índole.

Permitam-me que, embora de forma breve, as refira e saliente.

Em primeiro lugar, porque a opção de atribuir prioridade à construção dos novos navios para o serviço de transporte de passageiros entre estas ilhas constitui o reconhecimento e a resposta ao caráter verdadeiramente essencial dessa ligação, desde logo entre o Faial, o Pico e São Jorge e, numa perspetiva mais geral, entre todo o Grupo Central.

Fruto da história, fruto das circunstâncias, mas também fruto da vontade inquebrantável dos Açorianos desta parte da nossa Região, o transporte marítimo de passageiros tem sido, ao longo dos séculos, e hoje tem renovadas condições para que continue a ser, um fator de coesão, de pertença e de intercâmbio.

Aqui a palavra arquipélago ganha outro sentido, por sinal, mais visível e mais concreto no seu significado, mas também no seu potencial.

É, pois, também para responder a esse potencial, naquilo que ele encerra de desenvolvimento económico pela integração de três mercados insulares distintos, que a opção de elevar a construção destes novos navios a prioridade estratégica nesse domínio encontra a sua justificação.

E, se a melhoria das condições de transporte de passageiros já por si animaria uma decisão nesse sentido - bastará para tal relembrar que os Cruzeiros se aproximam das quase três décadas de serviço -, a possibilidade de aperfeiçoar as condições em que o mesmo é realizado e, para além disso, a vontade de inovar, levam a que hoje aqui estejamos face a um navio que não significa apenas uma melhoria.

Ele pretende ser, ele efetivamente é, - é essa a ambição da opção política que lhe está subjacente, - uma peça essencial naquela que já considerei ser “uma revolução tranquila” que se está a operar no modelo de transporte marítimo na nossa Região.

Num investimento global dos dois navios superior a 18,5 milhões de euros, maior conforto e maior segurança no transporte de passageiros serão características evidentes neste novo equipamento e que decorrem da própria evolução tecnológica no domínio da construção naval.

Permitam-me, porém, que saliente duas características que são inerentes a estes novos navios e que resultam de uma orientação política clara e consciente atempadamente imprimida a este processo.

Refiro-me às condições de transportes de doentes e ao transporte de viaturas.

No primeiro caso, a possibilidade de transporte de ambulâncias, bem como as orientações que já foram transmitidas, quer à Secretaria Regional da Saúde, quer à Secretaria Regional do Turismo e Transportes, quanto a tornar regra, sempre que tal se justifique do ponto de vista médico, a utilização dessa possibilidade, pretende resolver uma situação há muito reclamada e que, mais do que relacionada com o funcionamento ou a estruturação do nosso Serviço Regional de Saúde, tem a ver, em primeiro lugar, com a dignidade e o respeito pela intimidade e o bem-estar daqueles que, afetados pela doença, necessitam de se deslocar a outra ilha para aí receberem os cuidados necessários.

Mas, mesmo nos casos em que o transporte em ambulância não seja utilizado, o facto de estes navios estarem dotados de enfermaria devidamente preparada, acautela e dá resposta à necessidade que atrás referi e que é agora satisfeita, em qualquer caso, em condições incomensuravelmente mais adequadas e até mais dignas do que até aqui.

Um segundo aspecto tem a ver com o transporte de viaturas, que passa a estar disponível em ambos os navios, sendo que, no caso deste que hoje é apresentado, através de uma capacidade de 8 viaturas e 333 passageiros, e, no caso do segundo navio, com a possibilidade de transporte de 12 viaturas e de 287 passageiros.

Trata-se de uma inovação na ligação regular entre estas ilhas, a qual, embora naturalmente condicionada pela dimensão dos portos em que os navios vão operar, o que condicionou, por sua vez, a dimensão dos navios e a correspondente capacidade, pretende ser uma aposta e um alicerce na construção de um mercado interno com inegável benefício para a economia, nomeadamente, destas três ilhas.

Este é, aliás, o caminho que temos de seguir.

Hoje com estes navios à escala de algumas ilhas e amanhã à escala regional.

Queremos, porque é nosso compromisso eleitoral, e porque para isso estamos já a trabalhar, dar passos significativos e concretos nos próximos anos na construção de um verdadeiro mercado interno, o qual permita a integração das economias das várias ilhas num espaço económico regional, com os consequentes benefícios do ponto de vista do aumento da procura dos produtos de cada uma das ilhas, do aumento da competitividade e, em suma, do potencial de criação de riqueza e de emprego que por essa via também se prossegue.

E para esse objetivo, o Mar é, nas atuais circunstâncias, a única resposta possível como estrada e caminho para o cumprimento desse desígnio e dessa ambição.

É, pois, na articulação entre estas duas componentes políticas da nossa ação, - por um lado, o reforço da nossa economia e, por outro, a valorização da nossa relação com o Mar -, que o Governo dos Açores pretende cumprir o objetivo a que se propôs no âmbito do seu projeto de desenvolvimento para a nossa Região.

Permitam-me, aliás, ainda a este propósito, salientar algo que me parece essencial na forma como podemos encarar, não apenas o surgimento destes dois novos navios, mas, sobretudo, a concretização dessa aposta que o Governo afirma pretender fazer no Mar.

O processo de construção destes dois novos navios não é uma opção política que se esgote na sua entrada em funcionamento. Não se trata de uma ato isolado, de uma opção casuística. Trata-se, na verdade, de mais um alicerce na concretização da estratégia que atrás referi, trata-se de mais um passo na tal “revolução tranquila” e que tem uma ligação articulada, coerente e lógica com um conjunto de outros investimentos que o Governo dos Açores tem realizado no passado recente e com vários trabalhos que tem em curso ou em fase de conclusão.

Estes sinais, que estão, em alguns casos, à vista de todos, integram-se na estratégia que definimos de criação de um mercado interno, de melhoria das condições de mobilidade de pessoas e bens por via marítima e na valorização dessa relação com o Mar.

É também ao serviço dessa visão que foram realizados os investimentos de dotar os portos da nossa Região com rampas roll on/roll off, que foi construído este Terminal Marítimo em que estamos, que está em construção o Terminal Marítimo da vizinha vila da Madalena do Pico, que temos estado a aperfeiçoar, apesar do desafio técnico e de engenharia que o mesmo representa, o projeto de construção do Terminal Marítimo de São Roque do Pico, que estamos a avançar com o projeto de ampliação do Porto Comercial das Velas de São Jorge ou com o projeto de construção de rampa roll on/roll off no Porto da Calheta, entre muitos outros.

Mas é também ao serviço dessa visão estratégica, dessa ambição de progresso e de desenvolvimento que estamos a concluir os trabalhos finais para o lançamento do processo de construção de mais dois navios ferry para o transporte de pessoas e de viaturas, os quais, de dimensão superior à dos que vão servir o Triângulo, constituirão o instrumento para que, à escala regional, se possa cumprir e concretizar a criação de um verdadeiro mercado interno Açoriano.

Gostaria de terminar esta minha intervenção com duas referências que me parecem necessárias neste momento.

A primeira tem a ver com o nome que decidimos atribuir a este navio.

Neste caso do “Mestre Simão”, bem como no caso do segundo navio, cuja chegada está prevista ocorrer até ao final do corrente ano e que se chamará “Gilberto Mariano”, o Governo dos Açores pretende homenagear dois Homens, duas das várias figuras de referência do transporte marítimo entre o Pico e o Faial.

Manuel Alves, Mestre Simão e Gilberto Mariano da Silva, ou, como era mais conhecido, “Gilberto das Lanchas”, vêem assim os  seus nomes impressos, não apenas na história e no passado dessas ligações, mas, sobretudo, marcam, pelo seu exemplo, a ambição, a tenacidade, a competência e a vontade de servir cada vez melhor.

Gostaria, pois, de salientar e agradecer, em nome do Governo dos Açores, a presença, hoje aqui, de filhos e familiares de Manuel Alves, - uma saudação especial à Senhora D. Fernanda Ramos, que nos dá a honra de ser a Madrinha do navio que ostenta o nome do seu Pai, - os quais, com a sua presença, marcam bem, a propósito da apresentação deste novo navio, a confluência entre o Passado, o Presente e o Futuro.

Uma última palavra aos que, a partir de agora, têm a responsabilidade de cuidar do “Mestre Simão”, bem como a todos aqueles que o vão utilizar.

Este navio não é do Governo. Este navio não é da Atlânticoline, nem da Transmaçor.

Este navio, à semelhança dos investimentos públicos espalhados pelas nossas ilhas, é de todo o Povo Açoriano que o pagou e que agora o entrega simbolicamente àqueles que, também o tendo pago, vão dele cuidar e vão usufruir.

Curem dele e o melhor que se souber e que se puder.

Essa é a melhor forma, essa é a única forma, de honrar e dignificar aquilo que este navio significa em termos de missão que visa cumprir, de sinal de solidariedade entre Açorianos, para além, naturalmente, de honrar e dignificar a memória e o exemplo do seu Patrono.

Os meus parabéns e as maiores felicidades."



GaCS

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