quinta-feira, 18 de junho de 2015

Cientista britânico aconselha “muito cuidado” na exploração dos minérios nas águas dos Açores

O cientista britânico Phillip Dearden aconselha “muito cuidado” na concessão de exploração de minérios nas águas dos Açores pelos danos colaterais que poderá provocar nos ecossistemas existentes na região.

“O velho modelo ainda reina. Eles vão querer conseguir os maiores retornos económicos possíveis sem se preocuparem com danos colaterais. Não estão preocupados com as pescas a não ser que os façamos preocuparem-se. É uma questão de regulamentação. Diria que os Açores têm de ter muito cuidado”, disse à Lusa o professor da Universidade de Victória, no Canadá.

Phillip Dearden está em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, onde vai proferir hoje uma conferência na Universidade dos Açores, no âmbito da segunda edição do mestrado ‘Erasmus Mundus’ em ordenamento do espaço marítimo.

Nos últimos 25 anos, o cientista desenvolveu programas de pesquisa na área da preservação ambiental em espaço marinho na Tailândia e trabalhou em outros países na mesma região, particularmente no Camboja. Tem uma vasta experiência desenvolvida no Sri Lanka e atualmente trabalha na China.

Phillip Dearden considera que os Açores constituem um local com “muitos espaços abundantes” e onde “ainda existem escolhas” que em muitos outros locais do planeta já não podem ser feitas.

Esta “situação de exceção” do arquipélago deve ser gerida a longo prazo, não devendo a região “entusiasmar-se com esquemas e situações de curto prazo” visando extrair recursos, segundo o cientista.

O professor da Universidade de Victoria, que não é contra a exploração de minérios, alerta que quando se desenvolvem novas tecnologias, como no caso da exploração mineira subaquática, se avança “muito rapidamente, sem estudar os impactos”.

“Os benefícios económicos parecem ser tão vastos que nos atiramos de cabeça. Depois descobrimos, no espaço de 10 anos, que foi um erro. A minha experiência não me diz para não o fazermos, mas temos de olhar as formas seguras de o fazer”, aconselha Phillip Dearden.

No que toca ao ordenamento do espaço marítimo, defende que a regulação não resulta com base em leis e decretos e que é imperioso desenvolver um sistema baseado em incentivos.

“Uma abordagem mais efetiva passa por criar incentivos para que sejam as pessoas a proteger as suas áreas marinhas e os seus ‘stocks’ de peixe. Muitos desses pescadores sabem que as suas pescarias estão a entrar em declínio e que, a longo prazo, não são sustentáveis. Os que eles precisam é de ajuda para tornar as pescas mais sustentáveis no futuro”, defende o cientista.

O docente considera que a indústria do turismo relacionada com as atividades marinhas é uma boa aposta, uma vez que os Açores possuem várias características que não se encontram em outros locais do mundo.

O cientista exemplifica que na Tailândia e no sudoeste asiáticoos alemães pagam milhares de dólares para observarem recifes tropicais mortos pela sua vulnerabilidade às alterações climáticas, quando nos Açores apenas se depende da quantidade de peixe existente, do número de baleias, dos tubarões, dos cenários subaquáticos.

Phillip Dearden está convicto de que o mergulho subaquático nos trópicos vai tornar-se ainda mais problemático devido à solidificação e aumento da temperatura e que, nesse contexto, mais mergulhadores europeus procurarão os Açores, logo que se mantenha a qualidade existente.




Fonte: LUSA / Jornalacores9

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