segunda-feira, 1 de junho de 2015

Descoberta de Novas Plantas Endémicas Aumenta Biodiversidade dos Açores

Desde o início dos estudos botânicos sobre os Açores, nos finais do século XVIII e particularmente durante o século XIX, que se vem a considerar que a flora endémica dos Açores não apresenta muita diversidade, especialmente quando comparada com a que ocorre nas ilhas Canárias. No entanto, nesta década, e graças ao advento e vulgarização das técnicas de genética molecular, tem surgido uma série de estudos sobre a flora dos Açores que revelaram a existência de uma maior diversidade em plantas endémicas do que a originalmente conhecida.

 É dentro desta recente linha de estudos em biodiversidade que foi publicado no dia 29 de maio de 2015 um número especial da revista Phytotaxa, a maior revista científica atualmente vocacionada para a publicação de estudos em sistemática botânica a nível mundial, dedicado a novas adições à flora endémica dos Açores.

 Neste número especial encontram-se reunidos artigos de vários autores que descrevem novas espécies, redescobrem espécies esquecidas e reavaliam a taxonomia de plantas endémicas que não eram consideradas espécies. É o caso do folhado, que se pensava ser apenas uma subespécie endémica e que é agora elevado a espécie, com o nome de Viburnum treleasei, resultado do trabalho de investigadores da Equipa de Botânica do CIBIO-Açores, um pólo do CIBIO / INBIO Laboratório Associado, sediado na Universidade dos Açores. Esta equipa liderou uma extensa revisão morfológica e molecular das várias espécies aparentadas de folhado, existentes no sul da Europa, ilhas do mediterrâneo, norte de África, Açores e Canárias.

 Uma redescoberta similar surgiu durante a revisão efetuada pela mesma Equipa de Botânica do CIBIO-Açores, envolvendo as espécies de patalugo endémicas dos Açores, que são plantas da família Asterácea, pertencentes ao género Leontodon, com chamativos capítulos compostos por flores amarelas. Durante várias décadas pensou-se que apenas existiam duas espécies endémicas de patalugo, designadas por patalugo menor e patalugo maior, no entanto a investigação publicada agora revelou que existem três espécies endémicas, isoladas por grupo de ilhas: Leontodon rigens em São Miguel, Leontodon filii no grupo central, e Leontodon hochstetteri no grupo ocidental, tendo esta última espécie já sido dada como endémica para os Açores num dos primeiros tratados sobre a flora deste arquipélago, publicado no século XIX, mas descurada em trabalhos posteriores. A investigação, que se baseou numa extensa revisão morfológica, incluindo exemplares recentes e históricos existentes em herbários há volta do mundo, e também em dados moleculares, revelou ainda a existência de híbridos formados com uma outra espécie de Leontodon não endémica e cujo desconhecimento confundiu ainda mais os estudos anteriores sobre este género nos Açores.

Outra espécie agora considerada endémica é designada por cubres. Embora tivesse sido dada como endémica para os Açores no século XIX, trabalhos mais recentes levaram a que se pensasse ter sido introduzida a partir de plantas oriundas da América do Norte. No entanto, 2 verificou-se através do estudo agora publicado, realizado por um investigador da Universidade Técnica de Munique, tratar-se de fato de uma espécie endémica dos Açores, designada como Solidago azorica. A biodiversidade potencial da flora dos Açores também ocorre nos briófitos, pois entre estas novas adições à flora endémica dos Açores encontra-se uma nova espécie com o nome de Rhynchostegiella azorica, sugerindo este trabalho, liderado por investigadores da Universidade de Liège, que poderão existir outras.

Estas novas espécies não circunscrevem toda a biodiversidade a ser descoberta nos Açores nos últimos tempos, tendo sido recentemente publicado um artigo liderado por investigadores do Pólo de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores, também na revista Phytotaxa, onde se descreve uma nova subespécie e uma nova variedade de cedro do mato.

 Neste momento encontram-se vários outros estudos a serem finalizados pelos investigadores da Equipa de Botânica do CIBIO-Açores, em colaboração com a Universidade da Madeira, Museu de História Natural de Londres e Universidade Técnica de Munique, prevendo-se a breve trecho mais adições à flora endémica dos Açores.

 Estas novas descobertas e outros trabalhos em curso indicam que ainda há muito por estudar na flora dos Açores. É imperativo proceder com extrema cautela ao realizar ações de conservação envolvendo translocações - transporte de plantas endémicas de umas ilhas para as outras. É fundamental não interferir com o processo natural de evolução que decorre no Arquipélago. A transferência de plantas endémicas entre ilhas ou entre diferentes populações irá interferir no processo evolutivo, pondo em risco o autêntico laboratório natural que existe nos Açores. Do mesmo modo, a propagação de plantas endémicas por processos de clonagem origina cópias idênticas que poderão levar à erosão genética das populações naturais. A conservação dos endemismos exige a conceção e execução de planos de recuperação baseados em evidências científicas. Ações dispersas e descoordenadas poderão originar impactes ecológicos negativos e perdas para o erário público.

Endereço do número especial da revista Phytotaxa dedicado à flora dos Açores: http://www.mapress.com/phytotaxa/content/2015/pt00210(1).htm 

Contacto: Mónica Moura (Professora Auxiliar)

 CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos / InBIO - Laboratório Associado. Departamento de Biologia, Universidade dos Açores, Rua Mãe de Deus 58, Apartado 1422, 9501-801 Ponta Delgada, Açores, Portugal

Correio eletrónico: moura@uac.pt

 Telefone: 296650475

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